Até já, mãe
- Patrícia Valente
- 14 de ago.
- 2 min de leitura
O dia que temia chegou. Cheguei a pensar que faltaria mais tempo mas afinal a vida é imprevisível e por vezes tira-nos o tapete dos pés. Partiste, mãe. Para mim foi cedo, para ti não: já não querias cá estar com a doença que tinhas. De certa forma posso dizer que me despedi de ti porque me fui mentalizando que podias partir a qualquer momento e por isso não deixei nada por dizer. Fiquei com pena de não te poder escutar nos últimos dias, pois não se entendia o que dizias, mas sei que chamaste por mim duas vezes no dia em que nos deixaste. Se calhar sentiste que ias embora e querias partilhar o que já tinhas partilhado antes: agradecer-me pela minha ajuda incansável nos teus últimos anos de vida. Ou então era algo tão banal como "desliga a televisão, estou farta daquela gente a toda a hora". Nunca saberei. Mas conforta-me saber que valorizavas o meu apoio e que provavelmente estarás melhor agora.
Já li muitas teorias sobre o que acontece depois da morte física; dizem que a alma permanece viva: pode rodear os entes queridos se houve alguma coisa pendente ou então entra num estado de sono profundo antes de seguir para a próxima etapa astral. Se estiveres por perto é apenas porque te preocupas comigo mas acredito que já estejas no teu merecido descanso pós-vida. Há quem esteja a ler esta parte e a pensar que o texto até tinha começado bem, mas o que vale é que não escrevo para agradar mas sim para pôr cá para fora o que sinto.

O que restou foi uma dor, um vazio, difícil de explicar. Num momento estás cá, no outro momento desapareces, já não posso ter uma conversa contigo, não te posso ver ou abraçar. Se pudesse abraçava-te uma última vez, até isso era complicado ultimamente porque tinhas de estar sempre deitada. Acredito que com o tempo a dor seja amenizada e o que agora parece insuportável se torne aceitável.
Digo adeus a uma mãe que passou de pragmática e despachada a ser mais dependente e passiva. Uma mulher inteligente, trabalhadora, que sempre fez tudo pelos filhos e que tinha muito orgulho em ser professora, dizia ela que o que mais gostava era a relação que tinha com os alunos e sei que muitos deles gostavam dela e a admiravam. Não tinha facilidade em mostrar afeto, mas mostrava-o de outras formas. Sei que os últimos anos foram muito difíceis mas isso já acabou, minha querida mãe. Que descanses em paz finalmente e que nos continues a guiar pela vida fora. Até já, mãe.
N. 02/05/1950
M. 03/08/2025







Mensagem linda e doce que só podia ter sido escrita pela menina linda e doce que conheço e com quem privei muitos anos! Agora, minha querida Patrícia, resta-nos guardar as boas e belas memórias, os bons e alegres tempos com a nossa querida Lurdinhas. Tudo o resto não interessa!!! Estou aqui, se precisares. Beijo de alento no teu ❤️
Não consigo imaginar a dor que estás a sentir agora. As palavras que escreveste mostram todo o amor e a ligação única que tinhas com a tua mãe. É comovente ver como cuidaste dela com tanta dedicação e como estiveste presente até ao fim.
A ausência física é dura, e é natural sentir esse vazio. Mas o amor que vos unia continua vivo — nas memórias, nos gestos e em tudo o que ela te ensinou. A tua mãe, de certeza, sente orgulho em ti, tal como sentiu em vida.
Agora tudo parece pesado e difícil, mas deixa que cada lembrança boa te abrace e te dê algum conforto. A tua mãe vai continuar a estar contigo de muitas formas,…